Contraponto
Resolvi parar com isso de ficar suando quieto e pensei de que modo ia dizer o troço entalado na garganta (de nós todos interpretantes): como e por que diabos essa gente da literatura faz? Não era das profundas. Pensei não ser. Nesse mundo de Deus a superfície vai sobre as balizas do alto contraste. E decidi expressar minha pura opinião, derivada de um surrupio, se é mesmo verdade que os pareceres da gente vêm daqueles outros que nos mostraram coisas espantosas para marcar um caminho de pensamento. Ao que não se sabe dá-se um estofo e pronto, fica-se sabendo. É proveitoso não saber se para se preencher o vácuo. E vamos em frente, fazendo da terra abandonada que trabalháramos, mesmo sem saber, para adquiri-la por usucapião. Ahhh! Eu queria tanto pegar nos cânones e de como são, de todos os tempos, usurpadores da terra alheia...
Peguei um papel amarelado de velho, sob uma janela da qual escapava luz de dia. O lápis ainda mais velho, tudo velho de tanto repetir seu uso. Escrevi numa ordem de resposta como houve uma ordem de pergunta prévia, a relembrar: "a) como e b) por que diabos... (essa gente da literatura faz?)" O porquê era o grande clímax, e não podia figurar logo no começo. Eu o guardaria bem para o fim ou, melhor, sequer o diria. Isso! Dos dois ele era o ponto que mais, aos antipáticos às letras, interessava ter, esses que alimentam a teoria de que o literato é um sádico à procura de fazer pouco o entenderem; ah, esses antipáticos adorariam ouvir isso de quem quer que seja, mesmo de mim. Quem sabe? Mas não é o caso agora. Eu deixaria para o final e mesmo no prelúdio não o diria. Já o como de fazer texto, esse demoraria mais, mais complicadinho de tratar, pediria mais espaço, atolaria o ritmo, sendo perfeito para um desenrolar de expectativa acerca do porquê – o porquê! – que não quer calar nessa coisa batedora.
Então parei. O porquê é uma supressão.
Não deve de ser aventado.
E eu que o conformaria a um conto de tese? De que motivo maltratar assim a cabeça?
Vou contar pelo menos desta vez: eu queria era traumatizar, ferrar logo com uma má experiência do texto, a má experiência dos últimos nobéis e mesmo deles o mais existencialista, para que não se andasse mais aos calcanhares dessas abstrações que são tratados sobre as coisas; era desenbocar num senso de concretude incompleta, a inquisitora, a mais clara, a mais patente de todas. Ela não insere respostas nas coisas. Quem acha as soluções – ora, e não é senso que são muitas para uma mesma e mesmo às mais impositivamente binárias – somos nós, sedentos e sedentários.
Sedentários de quê? Olhei o sol pela janela e me ofuscou a vista, o malditinho. Os literatos lá escrevem por profissão? Quando escrevem, acho que é porque deram na telha, como uma pomba tarada num dia de sol forte. Aharara-pa-pá! É uma piada! Pus aqui um ponto e uma expectativa que, foda-se, é intangivelmente necessária.