domingo, 4 de outubro de 2009

Pó de armário

palavra cinzenta
debaixo do armário
não pode encontrar-se

ou suspeitar-se
sem que seja tempo
E não existe tempo
nem há tempo
nem tempo

a palavra cinza
a palavra-ferro-em-folha
gravada, já pronta e tabelada
vai feita no pó cinza
com que neutraliza uma geração

geração não inquire
corações não enfartam
cores não variam
cortes, sangues, mortes
os que sabemos, não delatam

como poeira insuspeita
a cor-ordem
se escorre de debaixo do armário
e serpenteia para além do armário
em campos magnéticos – e como os veremos?

projetada, calculosamente
o palavra pó de ferro
galvaniza o último espasmo
do último espanto
em cascas

a cor do poder
(não da palavra)
a cor-poesia que se pede tanto
craquela essa ordem das coisas, pelo amor de deus!