segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ar seco

Vivo seco
como a noite seca depois do dia
os enxarcamentos, os transbordamentos
ficaram nos ares retidos

Foi fértil o dia, como caquis no pé
os dias vão; as noites, secas
as estações, outras; os trópicos, mais quentes
desencarcerado
volita-me da nuca um trabalho de homem

Como e brinco e rio
como caqui, homem sério, de quem me despeço
sério que de dia esteve aqui?
está logo em qualquer parte à parte daqui

Hoje penso, como antes, em minha face adulta
que até ontem não me serviu caquis nem frutas boas
que até a véspera de hoje, por seriedade, não comeu
mas se negadas as brisas de ontem
mas se apartadas daqui as setas do ar que passa
recupero em tempo os aceptores - à ascese em mim
meus braços-cachos rajados no ar


O ar seco leva e a tudo seca
pois não levaria o enxarcamento, o transbordamento?
hoje vivo seco, embora coma caquis

e mais leve, a bem daqui, o pouco que não perco
vivo seco