domingo, 27 de abril de 2008

Ele

Quando morre, sua alma evola para o reino hiato.

Implora declaração. Ele que só pode ser outro, porque não tem em si mas por si o que seja propriamente seu (explosão!). Seu é o que se confunde às cordas do músculo-coração a intestino. Menos carne e mais palavra, para que as fibras da carne não passem ignóbeis pelo prazer semiótico. Sua contração e seu relaxamento, sua tensão e seu gozo ainda não são poesia. Mas que gozo, se involuntário? Músculo autômato: daquele cujas cordas trabalham a vida mais íntima sem que delas se dê conta ou se lhes agradeça o repertório. E não é isso a musculatura?

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A pele da letra, arranca. Lá, como o formigueiro, avulta-se a vida em veios de ordem. Não há o que não pode, porque seria mais ou menos como... Uma voz sendo um veio, concorre com tantos outros em favor do grande enredo: o mito de realeza, a espera da exuberância e de realeza, a profusão dos signos fórmicos e de realeza a quem somente os veios trabalham, esperando quaisquer mais formigas.

Quando operárias se fecham num trabalho coordenado, já entrou outra vez desordem no seio da terra: alguém pisa as formigas, mas sempre sobra um vestígio de solo-possa-o-novo. Que novo? Solo-possa-o-novo. Vê-se o formigueiro? É bastante plástico para que o veja e se é novo? Ou ainda é lacuna informe? Isso é coisa de pontuar. Os músculos são dele; o formigueiro, seu de você. E em categorias tão diversas do legado esclarecido - histologia, artrópodes - se comunicam no fio da matéria e da história.

Ele não é si. Ele é si projetado. Os olhos de si não perguntam nada, não desejam nada. Mas, em verdade, também aprecia boca grossa e perna masculina.

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Ele (aquele) recolhe as fezes do chão.