A formiga
Sobre a mesa do café vejo a formiga.
A formiga é tão única como a pusessem numa casa de espelhos. Solitária e universal. Não gosto que comparem minha formiga, não é um ovo nem galinha; mas sendo há pouco o maior mistério, fica simples num átimo, até que acaba. A formiga que acaba volta a ser tácita formiga. Ela não sabe que é, pica-nos - que noção do perigo! Não sei quem fui, alguém açula a formiga. E que se despreza a força da formiga? Acidula o córtex: os espelhos quebram e se vaporizam. É um som sussurro e incômodo.
A formiga vive num buraco modorrento sem matéria. O escuro da formiga não tem elétrons – mas choca? Pó de espelho: em um vidro perdeu-se a formiga.
Obrigado pela sua acidez, formiga: todos te a louvem! A formiga é um ser de açúcar mas amarga. Nosso artrópode preferido, nosso não-sei-quê. Você acredita na formiga. E se um dia um demônio se esgueirasse em sua janela e dissesse que a formiga mente? Não questione a formiga! Esse papel ninguém é bastante formiga para ele.
Uma vez mastiguei uma formiga e paguei caro. Tenho um sabor amargo no fundo da garganta, que ninguém sairá ileso. A formiga é indigerível, pára na glote. Mas será verdade que a formiga... Então será da mesma substância que o formigamento nos pés?
Pés não pensam, mas estão lá. Formigue-se, logo exista. Isso descreve a formiga: dá-nos tensão de espírito. Mas,
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A formiga é uma catarse.